Lições no Monte Roraima
O post desta semana é da nossa cliente e amiga Camilla Gonçalves que é sócia do Local Hostel Manaus. Ela conta sobre sua experiência no Monte Roraima e os aprendizados que obteve.
"Há 20 dias eu embarcava para um dos maiores desafios da minha vida: físico e psicológico. Uma aventura que escolhi para comemorar meu aniversário de 30 anos. A grande virada, como muitos dizem. Não sabia muito bem o que esperar. Li mil relatos na internet. Mas nada nos prepara para dias intensos de caminhada com sol queimando, chuva, vento e frio. O bom de passar por extremos e sair da nossa zona de conforto são os momentos de reflexão que nos permitimos. Durante toda a viagem fiz paralelos com minha vida pessoal e profissional. E, lições foram aprendidas. Vem comigo, vou te contar!
Primeira lição: Planejamento. Planejar uma viagem nem sempre é uma tarefa muito simples. Planejar uma viagem para o Monte Roraima tem um nível de dificuldade além do normal. Para ser sincera a palavra planejar já me causa um certo tremor. Nunca foi meu forte. Sempre preferi viver um minuto por vez e ver o que vai dar. Aquelas perguntas do tipo: como você se vê dentro de 5 anos? Nossa senhora. Dá até uma coceira. Nunca sei dizer. Mas, a vida não é assim. Ainda mais quando se está planejando subir e, consequentemente, descer o Monte Roraima.
Escolhi fazer 8 dias de trekking e decidi que queria carregar eu mesma a minha mochila. Agora os problemas começam a surgir. O que levar? Roupas, utensílios, remédios, sapatos, capas, comida, a lista de necessidades só aumenta. Você vai entrando nos sites e conversando com amigos, todo mundo tem uma dica do que você deve levar. E a recomendação é uma só: "carregue apenas 10% da sua massa corporal". Fazendo uns cálculos rápidos seria bom que minha mochila tivesse uns 7kg. Até parece. No final ela estava com 9kg e alguma coisa. Mas, vou conseguir. Fiz dois meses de academia e estou com muita força de vontade.
Além do planejamento do que levar para todos os dias de trilha você deve manter uma organização diária, eu diria até que de hora em hora, conforme o roteiro. Tudo o que você for usar nos próximos momentos deve estar em bolsos de fácil acesso. É muito complicado ficar tirando e colocando uma mochila pesada e ainda ter que ficar procurando objetos dentro dela. Lembrando que ainda tem a barraca de dormir, um espaço bem limitado e que você deve dividir com uma pessoa desconhecida. Ou seja, devia respeitar o espaço dela e não fazer bagunça e barulho durante a noite.
E assim eu segui todos os dias da viagem, sempre pensando nos próximos passos. Foi aí que caiu a ficha e comecei relacionar com o meu trabalho. Todos os dias preciso planejar as tarefas que serão executadas e colocar numa ordem de prioridade, caso não queira perder mais tempo, prazos e oportunidades.
Segunda lição: Liderança. No meu grupo haviam 12 pessoas totalmente diferentes umas das outras. Tanto fisicamente, como psicologicamente e até culturalmente. Como que faz para alinhar todo mundo? Pois bem, tínhamos dois guias. Um homem e uma mulher. Eduardo e Alyzza. Jovens, mas acostumados a levar grupos desde muito cedo. Sem formação acadêmica alguma, esses dois dão banho de liderança em muita gente. Experiência é tudo.
Todos os dias nós fazíamos um brifieng no começo e no final do dia. Discutíamos o trajeto que iríamos percorrer, distâncias e tempo. Conforme nossa caminhada eles faziam uma leitura individual de cada membro da equipe. Sabiam quem andava mais rápido, mais lento. Quem tinha medo de atravessar rios, saltar pedras. Quem precisava de ajuda, de uma mão, de uma palavra. Era inacreditável. Em tão pouco tempo eles conheciam a todos. Quando um de nós pedia ajuda, eles paravam o que estivessem fazendo e iam até nós nos socorrer.
No decorrer dos dias, companheiros de viagem com um senso de liderança mais aguçado já ajudavam Eduardo e Alyzza com os outros membros que precisavam de uma força. Seja para superar um medo de andar sobre pedras molhadas, saltar entre paredões ou dizer palavras de confiança.
Será que estamos atentos ao membros da nossa equipe? Conhecemos cada um deles e, principalmente, suas dificuldades? Temos paciência para parar um segundo e atender um pedido de socorro?
Eu poderia escrever um livro sobre tudo que refleti e observei durante meus oito dias no Monte Roraima, mas deixo aqui essas duas reflexões, que foram para mim as mais marcantes. Sigo planejando minha próxima aventura (oh, nem me deu tremor dessa vez)."
Camilla Gonçalves
Turismóloga - Especialista em Gestão Hoteleira
Sócia do Local Hostel Manaus
Participante da Escola de Líderes Singulari 2016
Sempre em busca da próxima aventura
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