Eu sou uma fraude.
Esse pensamento tem vindo até mim ultimamente, com mais frequência do que eu gostaria. Mas por que agora que finalmente eu sinto que estou entrando em harmonia com o meu bem-estar, eu sinto que sou uma fraude?
Por muitos anos eu vivi sob stress, acostumadíssima a entregar resultados sob pressão, reagir mais do que planejar, criar mais do que desenvolver, e por que agora me sinto uma fraude?
Eu fui direcionada pelo meu próprio corpo a desacelerar, primeiro minha saúde mental, depois minha saúde física, saúde emocional, enfim… como podem perceber eu fui direcionada, querendo ou não eu fui "obrigada" a isso. Como resultado temporário, o vazio.
Passei um bom tempo ainda processando essas mudanças. Minha vida era trabalho, ele não era apenas o que eu fazia, mas representava o que eu era, como eu me via. E aí, ele precisou parar de ser, imaginem a confusão mental que isso causou. Ter tempo, lazer, agenda, minha nossa! Quem sou eu e o que eu tô fazendo aqui? Socorro!
Todo esse processo me levou a (graciosamente) mudar de carreira, carreira onde eu não tinha domínio do que estava por vir. Como toda mudança, as novidades nos deixam vulneráveis. Antes eu tinha a segurança de "me garantir", hoje já me sinto mais insegura, antes eu tinha a rapidez para reagir, hoje eu não tenho necessidade disso.
Como uma boa millenial, entender o como e por quê das coisas tem sido uma jornada de autoconhecimento. O desacelerar me coube muito bem, e diante desse cenário trago 3 pontos de reflexão.
1. Sim, eu sou uma fraude.
Eu sou uma fraude para mim mesma. Enquanto eu não entender quais são minhas novas habilidades, capacidades e limites eu vou me cobrar e me apegar a como eu funcionava antes, mas minha capacidade não está mais no passado. Está aqui no hoje. Entender e respeitar quem eu sou hoje é o primeiro passo para eu desenvolver segurança e entregar resultados na minha realidade atual.
2. A culpa é do bem-estar.
Ter pensamento acelerado, ideias rápidas, insights borbulhando, alta performance de entrega, pró-atividade, tudo isso afirmava a ideia de que eu realmente dava conta do que eu fazia, e se hoje eu não tenho essa mesma mentalidade ou energia, a culpa é de quem? Desse tal de bem-estar. No início eu culpava "a necessidade de estar bem" porque me parecia mais importante ser "produtiva". Eu me punia por estar "bem de saúde" mas não estar rendendo como EU gostaria de estar.
E a verdade é que não é culpa nem de um e nem de outro, porque o ideal é não ter competição em olhar para todos os aspectos da sua vida. Olhar apenas para um lugar pode sufocar. Morte lenta.
3. Eu assumo papéis ou eles me assumem?
Centralização, cuidar, pensar, executar, auxiliar, se responsabilizar. Quantos dos papéis que eu assumo e exerço tem mesmo significado para mim?
Há tempos atrás, antes da pandemia, fiz uma atividade que era para mapear os papéis que eu exercia na minha vida, ali estava uma folha cheia. E fui questionada: "quais desses papéis realmente refletem quem você é e agregam valor à sua vida?" A folha ficou bem mais limpa depois desse filtro. E então a consciência de que eu devo gastar energia, me dispor a exercer os papéis que fazem sentido, aqueles para os quais eu fui "escolhida" não devem refletir um peso.
Escolhas.
Por fim, percebo que meu limite é só meu, sem comparações e sem me cobrar tanto ao ponto de não suprir as próprias expectativas, porque é exatamente isso que alimenta a ideia de que sou uma fraude.
Tudo muda. Tempos, pessoas, carreiras, trabalho, relações, tudo muda, e como disse Murilo Gun: "A gente não foi bem treinado para mudanças. A natureza da natureza é a instabilidade. Estabilidade é uma ilusão. A dor da mudança + resistência = sofrimento"
Vamos olhar com mais naturalidade para a instabilidade, focar em sermos bons em lidar com ela e não a resistir a ela.
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