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Luciana Nogueira

Psicólogo ou coach?



Dia 27 de agosto foi comemorado o Dia do Psicólogo e apesar de não me considerar corporativista resolvi escrever este texto, pois acredito que existe muita dúvida e confusão sobre quem pode cuidar de saúde mental.

Nos últimos anos estamos vendo uma avalanche de profissionais se intitulando “coaches”. Este termo surgiu na idade média e se referia a cocheiros que conduziam as carruagens ao destino desejado. No século XIX, este termo passou a ser atribuído a professores e mais tarde, já no século XX, a técnicos de esportes e, no contexto corporativo, àqueles que desenvolviam pessoas.

Atualmente, a palavra coach se refere àquele que conduz o processo de desenvolvimento pessoal e profissional de um indivíduo, focando na realização de objetivos. Considerando que vivemos em uma era de extrema competitividade e dinamismo, ter um profissional para auxiliar a busca por resultados parece algo relevante. E realmente é! Contudo estamos também na era que busca soluções rápidas e milagrosas. Toda semana surge uma nova dieta revolucionária que fará você perder 10 quilos em poucos dias, anos depois os impactos desse “milagre” passam a ser revelados em exames. No universo corporativo não tem sido diferente.

Se você colocar o termo ‘coaching’ no Google, milhares de páginas irão aparecer oferecendo formação em poucos dias e com isso uma possibilidade de “nova carreira”. Assim surgem alguns “profissionais” desta área que, independente da formação superior e da trajetória de trabalho, acreditam estar aptos a orientar pessoas na solução dos mais diversos tipos de problemas. Outras vezes esses “profissionais” são forjados em palestras motivacionais, onde as pessoas gritam palavras encorajadoras e com isso têm a vida transformada.

Durante o processo de coaching o coachee (que está sendo orientado) revela detalhes da sua vida e relata situações que muitas vezes o impedem de atingir seus objetivos. Aí pode estar o limite do trabalho do coach. Não conseguir ter foco para cumprir objetivos traçados, ou mesmo não conseguir traçá-los pode estar associado a questões muito mais profundas e complexas. Questões estas que não podem ser resolvidas com Rodas da Vida, metas S.M.A.R.T, auto feedbacks ou quaisquer outras ferramentas de coaching.

O que temos visto, contudo, são pessoas que acreditam ser capazes de diagnosticar (e tratar!) psicopatologias como depressão, transtornos de ansiedade, transtornos alimentares e tantos outros. E de forma leviana vão dando orientações - inclusive de como identificás-la em terceiros - que não lhe competem. O papel de diagnosticar e tratar estes e outros problemas psíquicos é exclusivo de psicólogos e psiquiatras, profissionais que passaram anos estudando o comportamento humano e têm embasamento científico para tal.

Fazer um psicodiagnóstico não é tarefa fácil. Os sintomas não aparecem de forma única e, portanto, não existe fórmula matemática. É necessário compreender a fundo o indivíduo e isso leva tempo. Não tem solução mágica, não existem atalhos. Nenhum curso rápido é capaz de lhe ensinar a fazer esta análise.

Quem tem competência para cuidar de assuntos relacionados à saúde mental são psicólogos e psiquiatras. Somente estes estão aptos a fazer análises e intervenções. Assim como quem cuida da saúde bucal é o profissional de odontologia, e de problemas cardíacos, o cardiologista. Profissionais de coaching podem e devem orientar indivíduos no alcance de resultados por meio de ferramentas e estratégias de gestão, mas sem ultrapassar seu campo de conhecimento. O trabalho do coach (sério, bem formado e com trajetória de sucesso) tem grande valor se for realizado dentro de limites éticos.

Assim, é importante saber que problemas como falta de foco, de motivação e tantos outros que aparecem dentro e fora do contexto de trabalho, por vezes têm raízes profundas. E para serem resolvidos precisam de abordagens específicas de profissionais preparados com anos de conhecimento acadêmico e experiência clínica. Esse não é o coach, não é o palestrante motivacional, não é o youtuber. Esse é o psicólogo.


Luciana Nogueira Minev

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